sexta-feira, 4 de setembro de 2009

São Francisco na rota da energia limpa.

Bons ventos, por António Pita de Abreu
Em: 28/08/2009 fonte: EDP no Brasil

O tema da energia é atualmente central na agenda estratégica de todas as nações mundiais. Dela depende a sustentação do crescimento das economias, bem como o equilíbrio ambiental. Dentre as fontes geradoras, a energia eólica é tida como uma das mais promissoras fontes naturais, principalmente porque é renovável. É percebida como a energia ambientalmente mais sustentável e popularmente mais acessível, podendo garantir 10% das necessidades mundiais de eletricidade até 2020, criar 1,7 milhão de novos empregos e reduzir a emissão global de CO2 na atmosfera em mais de 10 bilhões de toneladas. Razão pela qual a capacidade mundial de geração desta fonte aumentou 28,8%, em 2008, atingindo 120,8 GW - energia suficiente para fazer 500 milhões de televisores funcionarem ao mesmo tempo.

Na América Latina, a energia eólica representa menos de 1% da capacidade mundial existente. O Brasil tem o maior destaque, com cerca de 60% da capacidade instalada, equivalente a 400 MW. A marca ainda está distante do elevado potencial eólico existente no País, que pode alcançar 143 GW, comumente aceitos ou, mesmo, 300 GW, segundo estimativas mais recentes. Entendo que o País tem, por isso, todas as condições de partida - pelo menos a mais importante, que é possuir um abundante recurso eólico - para se tornar um dos possíveis líderes mundiais neste tipo de fonte. Esta vantagem brasileira deve-se, em grande parte, ao Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), que, apesar das suas restrições iniciais, como a imposição de um índice de nacionalização de difícil atendimento pela reduzida oferta de equipamento nacional, é responsável pelo início do crescimento do segmento eólico no Brasil.

A eólica é complementar à energia hidrelétrica e essa complementaridade pode significar economia de água nos reservatórios das grandes hídricas. A eólica pode permitir que se evite o despacho das térmicas emergenciais (a óleo combustível) que, além da emissão de gases de efeito estufa, têm um custo muito elevado. Um estudo da professora Leontina Pinto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostra que a disponibilização de 600 MW médios de eólicas permitiria poupar aproximadamente R$ 4 bilhões no despacho de térmicas, no período de 2009 a 2011.

Entretanto, análises da consultoria PSR e da ABEEólica demonstraram que o custo da energia eólica já é hoje comparável ao das usinas térmicas. Ou seja, a energia eólica está progressivamente ganhando competitividade.A abundância de água no Brasil justifica que até hoje a prioridade dos governos tenha recaído no desenvolvimento da hídrica, cujos custos de implantação por MW são, por ora, inferiores aos da energia eólica. Mas a matriz energética brasileira terá de ser progressivamente diversificada com outras formas de energia, para além da água. A eólica tem aí um papel fundamental. A realização do primeiro leilão específico para a energia eólica é um passo concreto na direção certa.

Este será o início de um programa de longo prazo, que sinalizará para os investidores, operadores, fabricantes de materiais e prestadores de serviços uma aposta oficial, firme, no desenvolvimento deste segmento. Porém, a sua consolidação requer metas de longo prazo, claras e ambiciosas que deverão ser refletidas no plano oficial para o setor, que à data de hoje prevê apenas 5000 MW de capacidade eólica em 2030. O que é claramente pouco em face das evidências internacionais e do potencial brasileiro. E, ainda, requer regulação específica para o setor, que clarifique as regras do jogo e que evite os movimentos especulativos, que afastam os potenciais investidores de longo prazo. Feito isto, é deixar o mercado funcionar e trabalhar para que nos próximos dez a 20 anos o Brasil ascenda a uma posição cimeira no mercado de energia eólica. Acredito que tem todas as condições para o efeito.

António Pita de Abreu – Presidente da EDP no Brasil


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